“Deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer. Deixar que os olhos vejam pequenos detalhes lentamente. Deixar que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes, como móveis inofensivos, pra lhe servir quando for preciso, e nunca lhe causar danos, sejam eles: morais, físicos ou psicológicos.” (Chico Science)
Disseram que a tarifa de transporte coletivo não ia subir. Mesmo depois de terem dito a mesmíssima coisa ano passado, antes dela subir. Disseram que tudo isso era boataria. O que nos dá razão de sobra pra não acreditar nisso tudo. Já perguntamos: “quem acredita?”. Mas ninguém respondeu. Ninguém respondeu, mas parece que no fundo todo mundo acredita. Ou quase todo mundo. Pois, como foi dito por nossos próprios colegas, fechar meia hora uma avenida importante ou fazer um bafafá na frente de um prédio administrativo parece ser o bastante pra sentirmos que já cumprimos nosso dever civil. Que dever civil é esse: o de reclamar por menos chibatadas e não ser atendido? Ou de ter o seu desejo supostamente concedido, mesmo que temporariamente, só enquanto as feridas cicatrizam?