terça-feira, 23 de novembro de 2010

Queremos gratuidade total (ou: A utopia de hoje é o futuro do amanhã)

“Deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer. Deixar que os olhos vejam pequenos detalhes lentamente. Deixar que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes, como móveis inofensivos, pra lhe servir quando for preciso, e nunca lhe causar danos, sejam eles: morais, físicos ou psicológicos.” (Chico Science)

Disseram que a tarifa de transporte coletivo não ia subir. Mesmo depois de terem dito a mesmíssima coisa ano passado, antes dela subir. Disseram que tudo isso era boataria. O que nos dá razão de sobra pra não acreditar nisso tudo. Já perguntamos: “quem acredita?”. Mas ninguém respondeu. Ninguém respondeu, mas parece que no fundo todo mundo acredita. Ou quase todo mundo. Pois, como foi dito por nossos próprios colegas, fechar meia hora uma avenida importante ou fazer um bafafá na frente de um prédio administrativo parece ser o bastante pra sentirmos que já cumprimos nosso dever civil. Que dever civil é esse: o de reclamar por menos chibatadas e não ser atendido? Ou de ter o seu desejo supostamente concedido, mesmo que temporariamente, só enquanto as feridas cicatrizam?

Nosso dever civil não é ir numa urna e apertar confirma, é mostrar a cada candidato eleito que fomos nós que os elegemos. É mostrar que eles são nossos empregados, ao invés de continuarmos sendo empregadas da casa deles – acreditando que no Natal vamos ganhar uma cesta básica, ou uma semana de férias. Pelo amor de Deus, meus caros amigos, onde estamos com a cabeça, pra estarmos tão distraídos, nos mantermos tão vacilantes e distantes do que realmente se passa?

Disseram que a passagem não ia custar mais de R$ 2. E só porque quem disse isso é alguém que aparece na televisão ou na capa de jornal, quase todo mundo acredita. Como tanta gente acredita?

Tem gente que é ateu com as coisas de Deus, mas não é com as coisas dos homens. Acredita em tudo que a mídia diz, que o político fala num pronunciamento, que um candidato promete numa campanha. Tem gente que parece ser tão ignorante, ou inocente, que não capta a artimanha por trás desses discursos. Como se desconhesse o já manjado curso desse rio. Um pouco mais poluído do que deveria, é verdade, mas ainda sim diz respeito à nós. Está em nossas terras, e devemos prezar por ele. Ecologia e economia estão mais próximas do que parece. E só depois de certas mudanças entenderemos porque.

Claro que os que estão lá na frente já entendem. O que seria do mundo se não fosse a vanguarda? Como diz o poeta: “A utopia de hoje é o futuro do amanhã.”

“Deixar que os fatos sem fatos.” Mas deixar também que as verdades sejam verdades, ou seja: a passagem vai SIM aumentar. Deixar que os protestos sejam protestos, os manifestos, manifestos, e os direitos, direitos. Deixar que os cidadão sejam cidadãos e as mobilizações, mobilizações. Deixar que as utopias sejam utopias e os sonhos sejam sonhos. Para que assim os sonhos se tornem verdades, as utopias se tornem fatos, e os direitos se tornem finalmente cidadãos.

“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” (Eduardo Galeano)

Parece que ninguém se importa por uma luta realmente real. Todos preferem ficar na superfície dos superficialismos. Pensam que estão conquistando algum direito ao lutar por um não-aumento: todos escravos do sistema. Deveriam lutar por no mínimo uma redução da tarifa, no meio de tanta exorbitância. Ou uma gratuidade total, que é o mais sensato.

Quem preferir discordar – sem parar pra analisar do que estamos falando – continue pagando imposto, mesmo a contragosto, e vendo tudo continuar do jeito que tá: parado, engarrafado, caotizado. Literamente entregue às baratas.

Tem gente que diz que o sistema não existe. Perguntam: “que sistema é esse?” Das duas uma: ou estão muito bem nutridos por ele, à base de leitinho com pêra, ou estão tão escravizados que não tem tempo, nem cabeça, pra refletir no assunto. Os poucos que sobram formam aquilo que chamamos de minoria. Mas tem um detalhe interessante: basta uma minoria considerável pra formar uma massa crítica com força suficiente pra efetuar consideráveis mudanças.

Que mudanças são essas? Todas que nós quisermos, todas que vierem em nosso favor. O mundo de hoje pode até ainda ser dos escravocratas, mas o de amanhã, sem dúvida alguma, é o dos libertadores. #TransporteGratuitoParaTodos já!

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