segunda-feira, 22 de novembro de 2010

#TransporteGratuitoParaTodos (ou: A união faz a força)

“Toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem dos transportes coletivos de Natal é boataria.”

Com essa frase, a prefeita deixou claro de uma vez por todas que aqui em Natal não tem isso de disse-me-disse, nem essa de pau-mandado. O recado foi dado enquanto ela conversava com a imprensa local sobre as notícias que vazaram divulgando o aumento - quarto consecutivo em três anos.

Talvez seja a maior das verdades já ditas até aqui. Se formos parar pra olhar com atenção, veremos que a afirmação está coberta de razão. Toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem dos transportes coletivos de Natal é realmente boataria. É claro: não passam de meras especulações. São apenas boatos, conversa de porta de rua. Porque nada do que foi dito sobre o aumento é sério. Toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem é boataria.

Não importa se essa informação vem daqui ou de lá: é boataria. Não importa se ela diz que vai ou não vai aumentar: é boataria. Sim! Porque – conforme foi noticiado pela imprensa – todas essas questões, toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem dos transportes coletivos de Natal é boataria. Nada deve ser visto como sério. Pelo contrário, tudo deve ser encarado com o máximo de bom humor.

Afinal, não se trata de algo concreto, fundamentado, mas antes de um mero boato. Se fosse algo realmente íntegro, ético, responsável, até ia, até se compreenderia alguma seridade, mas como não é, vamos descontrair, deixar de tanta tensão.

O nome do cartão de transporte não poderia ser mais irônico: passe livre. Apropriaram-se do nome de uma luta por transporte gratuito e de qualidade para todos para nomear um sistema que busca corporativizar ao máximo o que deveria ser um serviço estatal estratégico. É assim que a máquina faz: devora o que aparecer no caminho, corrompe, compra. Todos nós temos um preço. Alguns custam menos, outros se valorizam mais.

Passe livre? Como podem chamar de livre um passe que vai custar R$ 2,30 a unidade? Que liberdade é essa? A de pagar caro por um seviço ineficiente? A de ser cobrado por um direito que deveria estar sendo garantido mas não está? A de servir de mero joguete nas mãos de forças maiores, costas mais largas, contas mais gordas?

A julgar pelas palavras pronunciadas na solene sessão da noite passada, podemos imaginar que seja mesmo um tempo de crer que tudo isso seja uma imensa boataria. Mas é impossível não se perguntar: se tudo isso é uma boataria, como foi afirmado, as palavras que afirmam isso também não o são? Se toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem dos transportes coletivos de Natal é boataria, essa mesma afirmação também não seria? Se ela afirma que toda e qualquer informação acerca do aumento na passagem é boataria, essa afirmação seria o que? Algo sério? Não, impossível. Nada pode ser sério onde tudo é uma boataria.

Como a própria prefeita deixou bem claro: nada aqui é conversa séria, tudo é boataria. Tudo bem que já sabíamos, que essa história de que não vai ter aumento era um baita papo furado. Apenas mais uma chupeta pro povo dormir tranquilo, enquanto a dona da casa ganhava tempo pra arrumar a bagunça que as crianças fizeram em sua ausência.

Talvez estejam tentando nos convencer de que tudo vai mudar da noite pro dia, como num passe de mágica. Isso! É isso mesmo. Um passe livre que não tem nada de livre, e que de forma alguma vai resolver a vida das pessoas da noite pro dia. É realmente um baita passe de mágica.

Disseram que a tarifa de transporte não vai aumentar. Mas disseram também que tudo que disserem sobre o aumento da tarifa é boataria. Como a gente vai acreditar que a tarifa não vai aumentar, quando toda e qualquer informação acerca de aumento na passagem dos transportes coletivos de Natal é boataria?

Quem acreditaria nisso? Ter fé é uma coisa, acreditar em promessas é outra. Esqueceram o tanto que já foi prometido? E o tão pouco que foi cumprido?
A tarifa de transporte público vai aumentar, sim ou sim. A única diferença é que deram um calmante pro povo, serviram um suquinho de maracujá: conseguiram convencer a moçada de que isso é um papo furado, que essa história de aumento não existe, e que nunca vai acontecer. E assim conseguiram ganhar um tempinho pra descascar com mais calma o pepino.

No mesmo dia a hashtag #aumentonao entrou nos trend topics do twitter. As coisas se inverteram, e perverteram, a tal ponto, que estamos lutando por um não-aumento. Não é mais uma luta por uma tarifa mais barata, mais justa, mas sim por um não-reajuste, um não-inflacionamento. É realmente esquisito: nos colocaram na situação de pedintes, e ainda resolveram nos cobrar por aquilo que devem nos dar. E não importa o quanto a gente lute, porque esse aumento sempre vem. É inevitável: a corda sempre pende pro lado mais fraco.

O direito de ir e vir é garantido por lei. Mas como podemos ir e vir quando o ônibus passa direto e nos deixa na parada? Como podemos ir e vir quando não encontramos um só ônibus de madrugada? Como podemos ir e vir quando nosso destino depende de um jogo de cartas marcadas? Como podemos ir e vir se a gente tenta, tenta e não dá em nada?

Não seria esta a hora mais certa para nos aprofundarmos na luta, e juntos reivindicarmos não um passe livre falsificado, que não tem nada de libertário, mas sim um passe gratuito, verdadeiramente livre, pra todos sem exceção? Passe grátis já! Um transporte público gratuito, de qualidade e eficiente, feito pelo e para o povo.

As informações sobre o aumento da tarifa podem até ser boataria, mas sobre o #TransporteGratuitoParaTodos definitivamente não são. Ou se parecem ser, para quem ainda não entrou no movimento, logo deixará de parecer. Porque ter um transporte coletivo de qualidade e gratuito não é utopia, mas um direito de todos. E juntos, nós podemos torná-lo realidade. Como ficou mais do que provado segunda-feira, com o congelamento temporário da tarifa, conquistado graças à nossa mobilização, e à pressão que a mesma causou.

Vamos aproveitar esses tempos de internet e todas as ferramentas que ela nos dá, para nos unir e exigir um transporte gratuito e de qualidade para todos, sem exceção. Para mostrar que captamos a essência daquela famosa expressão: a união faz a força.

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